domingo, 31 de maio de 2009

Ameaça norte-coreana.





A atual crise na península coreana é mais um capítulo de uma história que teve início na década de 1950, quando a Guerra da Coréia inaugurou as hostilidades da Guerra Fria. Ao fim desse conflito não foi possível estabelecer um acordo de paz entre as partes e a Coréia foi dividida entre o Sul democrático e capitalista e o norte comunista e ditatorial. Hoje a Coréia do Norte é um país extremamente fechado e gasta quase a metade de seu PIB com armamentos.
Quais seriam as raízes desse comportamento dito “fora de lei” e agressivo da Coréia do Norte? A resposta encontra-se no fim da Guerra Fria. A Coréia do Norte não conseguiu se adaptar a esse fenômeno e ao perder seu maior aliado na região, a URSS, voltou-se para o isolamento. A “religião” oficial do país, conhecida como Juche, foi implantada por Kim Il-Sung, pai do atual presidente Kim Jong-Il, segue o princípio da auto-suficiência e identifica as influências estrangeiras como ameaças a sua segurança.
Enquanto o lado sul da Coréia prosperava no período do pós-Guerra Fria, o lado norte perecia em miséria.
As características nacionalistas e militaristas do regime comunista norte-coreano pioram a situação no sentido de prejudicar a cooperação com a Coréia do Sul e países vizinhos que buscavam tornar a Coréia do Norte um país integrado à comunidade internacional de nações. O programa nuclear norte-coreano se intensificou na década de 1990, pois Kim Jong-Il identificou nessa estratégica a única saída de um país pobre e vulnerável diante de intervenções estrangeiras. Foram realizados testes com mísseis que chegaram a sobrevoar o espaço aéreo japonês em 1998. Desde então, a política externa dos EUA buscou estabelecer canais diplomáticos com a Coréia do Norte para tentar minorar seu comportamento agressivo.
Durante a administração Clinton foram criadas as negociações conjuntas com o Japão, Rússia, China e Coréia do Sul e uma agência de energia para os norte-coreanos em troca do fim do programa nuclear de Pyongyang. O problema é que esse esforço de cooperação foi interrompido várias vezes pelos testes com mísseis realizados pela Coréia do Norte e o governo Clinton foi acusado de ajudar financeiramente um regime terrorista e trapaceiro. Em outras palavras, o dinheiro que deveria ser usado para investimento em outras formas de energia estava sendo usado pelos norte-coreanos para fins militares. Na administração Bush os problemas se agravaram quando os EUA incluíram a Coréia no seu “Eixo do Mal”, um grupo de países que estariam direta ou indiretamente financiando o terrorismo. As negociações não avançaram.
O elemento explosivo das crises na península coreana é o fato de envolver interesses diretos das Grandes potências como Rússia, China, Japão e EUA. Além disso, há uma alta probabilidade de uma guerra na península de espalhar e tornar-se um conflito internacional com potências nucleares. Qualquer solução pacífica em curto prazo é limitada pelo histórico de trapaças da Coréia do Norte e por sua conduta agressiva desde o fim da Guerra Fria. Neste caso, há um maior incentivo à retaliação do que a reciprocidade.

O Novo Plano de Defesa Nacional




Recentemente foi lançado pelo governo federal o Novo Plano de Defesa Nacional. Trata-se de um amplo documento que traça os projetos para a área de defesa no Brasil e aponta as responsabilidades dos vários ministérios envolvidos. Os mentores intelectuais do novo plano são o ministro da defesa Nelson Jobim e o secretário para assuntos estratégicos Mangabeira Unger.
O Novo Plano é ambicioso e responde às demandas de um novo cenário internacional caracterizado pelas ameaças difusas e parece, enfim, mostrar a toda sociedade que a idéia de “Um Brasil sem inimigos” é contraproducente e acaba por tornar o país mais vulnerável em setores sensíveis como a indústria de defesa, mobilização nacional e modernização das forças armadas, ou seja, justamente os setores onde o Novo Plano mantém o foco.
O poder militar de uma nação continua sendo o principal vetor de projeção da influência política no exterior. Isso ocorre porque é através do pode militar que as nações mantêm a sua segurança, objetivo maior para a sobrevivência do Estado. Além disso, a indústria de defesa é responsável por grande parte das inovações tecnológicas no setor civil e a idéia de tecnologia para uso dual é cada vez mais forte.
O “Brasil sem inimigos” não se sustenta diante das transformações geopolíticas recentes na América do Sul, como por exemplo: o reposicionamento dos narco-guerrilheiros das FARC para o sudeste da Colômbia próximo a fronteira com o Brasil; a reativação da 4ª Frota da Marinha dos EUA para o Atlântico Sul; cidadãos brasileiros tendo seus direitos cerceados no Paraguai; empresas brasileiras sendo perseguidas na Bolívia e no Equador e o rearmamento desmedido da Venezuela de Hugo Chaves com o apoio da Rússia provocando um princípio de desequilíbrio de poder na região.
No Novo Plano há uma preocupação explícita em modernizar as Forças Armadas. O Exército receberá recursos para sua modernização, inclusive no sentido de adestramento de tropas especializadas em vez de largos contingentes de recrutas. A Força Aérea deverá receber recursos para finalizar seu programa FX-2 para substituir seus caças de superioridade aérea e permanecer hegemônica nos ares sul-americanos. A Marinha é um ponto chave do Novo Plano e deve receber recursos para modernizar sua esquadra e cerca de R$ 1 bilhão para terminar o submarino nuclear, algo que, de fato, dotaria o Brasil de uma vantagem estratégica considerável.
O Novo Plano é importante para o país, pois não trata apenas do reequipamento das Forças Armadas, mas também do reposicionamento dessas para o Oeste e Norte do país e também busca através da Lei 6.592 de 2007, que instituiu o Sistema de Mobilização Nacional (SISMOB), unir os vários setores da sociedade em torno do tema da defesa nacional para tornar o país independente nas várias áreas concernentes à defesa da soberania nacional tais como indústria de defesa, logística e sistemas de transportes. O Brasil, enfim, parece começar a lidar com seriedade do tema da defesa nacional em um ambiente internacional onde a possibilidade de agressão estrangeira por outros Estados ou atores não-estatais é sempre uma possibilidade real.

Os EUA de Barack Obama e as chances de mudança.

O novo presidente dos EUA já entrou para a história. Seus discursos modernos e sua visão cosmopolita chamaram a atenção da população norte-americana cansada com a recessão em sua economia e com duas guerras longas e dispendiosas. São heranças da administração Bush que Barack Obama terá que enfrentar.
A vitória de Obama é algo sem precedentes na história eleitoral norte-americana com vitórias em Estados tradicionalmente republicanos. Além disso, os democratas conquistaram o maior número de congressistas e serão maioria. Em outras palavras, Obama terá um capital político elevado para empreender as mudanças na política doméstica e externa.
A principal mudança em relação ao atual governo é que Obama entende o mundo como multipolar e percebe que os EUA passaram por um decréscimo no seu poder nacional nos últimos anos. Isso decorre, em grande parte, por conta da ascensão econômica de países como a China, Índia e o retorno da Rússia enquanto potência militar pró-ativa. No tema do terrorismo, por exemplo, a percepção de Obama é a de que os EUA não podem vencer a “Guerra ao Terror” sozinhos. E isso é reflexo de uma avaliação da estrutura internacional pós-11 de setembro, caracterizada pelas ameaças difusas, muitas vezes presentes em redes terroristas que atuam em vários países.
Obama ressaltou em sua campanha o “poder moral” dos EUA. Trata-se de uma preocupação com a legitimidade de sua política externa. Ou seja, não agir unilateralmente para não ficar isolado politicamente depois. A política externa de Obama parece dar um enfoque maior ao poder de atração e persuasão dos EUA e posiciona o poder militar como a última alternativa.
Mas isso significa uma grande mudança? Só o tempo irá dizer, mas a tendência é que os interesses de longo prazo dos EUA equilibrem uma visão benevolente na política externa. A realidade de poder atual concede aos EUA o maior poderio econômico e militar do mundo e os interesses nacionais muitas vezes prevalecem sobre concepções morais específicas. Bill Clinton é democrata como Obama e foi um dos presidentes que mais promoveu intervenções militares no exterior entre 1993 e 2001. Por conseguinte, é improvável que Obama abdique de manter ou expandir, quando possível, o poder norte-americano ao redor do mundo e para tal objetivo é justamente o poder militar o vetor tradicional.
Não serão os objetivos de vencer a “Guerra ao Terror” que mudarão. Tampouco os gastos militares necessários para a manutenção da hegemonia norte-americana. O que tende a mudar, de fato, são os meios empregados nos objetivos da política externa dos EUA. Como, por exemplo: As negociações diplomáticas com o Irã e Coréia do Norte em vez de ameaças de sanções; a revitalização das relações com o mundo islâmico; a mudança de foco para o Afeganistão e Paquistão como pontos estratégicos principais para enfraquecer a Al Qaeda; um plano de retirada e transferência de poder no Iraque e por fim, o principal, a melhoria da imagem internacional dos EUA.

Água e Política Internacional

O V Fórum Mundial da Água realizado em Istambul, Turquia, terminou sem grandes avanços. Temas importantes como o acesso à água potável, direito ao saneamento básico e uso racional e da água para a indústria e agricultura foram tratados, mas no fim, o que se conseguiu foi apenas uma declaração de intenções no sentido de recomendações e não de resolução impositiva às nações do mundo.
O fato de o fórum ter sido realizado na Turquia não é apenas uma coincidência. A Turquia detém hoje aquilo que podemos chamar de uma das principais “causas das guerras internacionais” em um futuro próximo, isto é, a escassez de recursos hídricos.
A escassez é importante enquanto tema de política internacional, pois os aqüíferos são essencialmente internacionais, não reconhecem as fronteiras políticas entre os Estados.
No caso turco ainda há o agravante de a escassez hídrica na região ocasionar uma escalada de conflitos ligados a outros temas. Um exemplo disso é o projeto “Grande Anatólia”, uma série de barragens envolvendo as nascentes dos rios Tigre e Eufrates que acaba gerando uma vantagem estratégica para os turcos em relação à Síria e ao Iraque. Controlando a maior parte do acesso à água nessa região os turcos podem pressionar os sírios a retirar seu apoio aos separatistas curdos do leste da Turquia ou mesmo pressionar os iraquianos em temas como preço do barril do petróleo.
Em todo o Oriente Médio, onde o petróleo sempre foi um tema de rivalidade, a água tende a ser a próxima motivação de conflito interestatal. Contudo, a realidade para as demais regiões do planeta não são agradáveis. A maior parte da água potável no mundo é usada para fins de agricultura (70%), indústria (20%) e as necessidades domésticas correspondem a apenas 10%. É uma questão que gera um dilema moral, pois a água não foi definida como “direito humano” pelo V Fórum Mundial da Água. Ao não tratá-la como direito básico a água permanece sendo um bem econômico disputado por empresas que querem fornecê-la por um preço baseado na melhor relação custo-benefício (lucro).
Casos como a privatização da água, como ocorreu na Bolívia em 2000, são provas indeléveis de que o poder econômico das empresas multinacionais pode limitar o acesso à água potável e tratá-la simplesmente como mais um bem de consumo rentável. Outros casos como a desertificação na Tunísia e todo norte da África e o assoreamento de rios e lagos importantes na Ásia geram outros problemas internacionais como a movimentação de milhões de pessoas, os refugiados ambientais. A água já é tratada como tema de segurança nacional em muitas nações. É necessário que haja um maior consenso científico para ampliar essa preocupação e tratá-la como tema de segurança internacional. Somente deste modo será possível tomar medidas no âmbito internacional para minorar o problema do acesso e usos da água. À guisa de exemplificar a gravidade do assunto, a maior causa de mortalidade infantil no mundo está ligada à deficiência ou ausência de saneamento básico e não as guerras.

A Crise Mundial dos Alimentos

As nações de todo o mundo tem observado a ascensão de uma crise envolvendo a produção de alimentos nos últimos dois anos sem precedentes no que tange às suas causas imediatas. Protestos de rua em vários países são as reações mais comuns diante da atual crise dos alimentos em escala mundial. Quais seriam as principais causas dessa crise em um setor fundamental para a economia internacional?
Durante o século XIX, os países mais populosos do mundo não pressionavam os preços dos alimentos, pois a mão-de-obra barata na China e na Índia não gerava fortes demandas nesse setor. Contudo, a figura atual mudou e uma das principais causas econômicas da crise dos alimentos está justamente na ascensão do poderio econômico da China e da Índia e, em conseqüência disso, o aumento do poder aquisitivo das classes assalariadas desses países que juntos correspondem a cerca de 1/3 da população mundial.
Outro fator que devemos levar em conta é o aumento pela demanda por biocombustíveis. Nos EUA, por exemplo, O processo de fabricação do biocombustível é baseado no milho e os gastos envolvidos nesse processo absorvem 10% da produção mundial deste cereal. A União Européia responsabiliza o foco nos biocombustíveis pela alta expressiva dos preços das commodities agrícolas que vem causando inflação em todo mundo. Há, de fato, uma elevação nos preços dos cereais e da energia em todo o mundo, além do impacto negativo na agricultura.
Um terceiro fator contribuindo para a crise dos alimentos é o aquecimento global que tem ocasionado secas severas em países produtores de cereais como a Austrália e a Argentina, retardando, assim, a colheita. Esses três fatores em conjunto: o aumento da demanda na China e na Índia por alimentos, o boom dos biocombustíveis e as mudanças climáticas produzem resultados extremamente negativos ao redor do mundo, principalmente nos países menos desenvolvidos.
Uma reportagem do Le Monde Diplomatique em Maio de 2008 demonstrou que nos países ricos, os gastos básicos com alimentação representam apenas 14% da renda familiar. Nos países mais pobres, como em toda região da África subsaariana e na maior parte do sudeste asiático, os custos da alimentação consomem 60% da renda. Portanto, qualquer aumento pode ser fatal nos países menos desenvolvidos, pois as importações de produtos básicos ficarão mais caras.
O resultado dos fatores supracitados são os vários levantes populares que irromperam no México, Argentina e em vários países africanos diretamente afetados pela alta dos preços dos alimentos. A política adotada por esses países para lidar com o problema tem sido a elevação dos subsídios, controle de preços e até a proibição da exportação de alimentos. O paradoxo atual é que a agricultura voltou a ser colocada no centro dos debates sobre o desenvolvimento econômico, ou seja, logo o setor que as Instituições de Bretton Woods, o FMI e o Banco Mundial, contribuíram para enfraquecer com suas cartilhas de liberalização da economia.
Prezados, Inicio este blog para, em primeiro lugar, inserir meus artigos já publicados pelos jornais. Posteriormente postarei mais comentários sobre os fatos internacionais em destaque.

Abraços a todos!