quinta-feira, 23 de julho de 2009

Novo capítulo de Chávez (ahora com su amigo Zelaya)




Chávez acredita que a Guerra Fria não acabou! ou que pode estabelecer um pólo de poder na AL em contraposição à influência do colosso do norte. No início Chávez chamava mais a atenção. Principalmente quando foi alvo de um golpe mal sucedido em 2002. Hoje, contudo, seus apoio às FARC e seu assalto contra as instituições democráticas tem o colocado mais como uma fator de instabilidade do que como uma alternativa política. Chávez tentou persuadir o Equador, a Bolívia e agora Honduras a seguirem (sob sua liderança- ALBA) um projeto de poder chamado "bolivarianismo". Atualmente gera mais risos do que preocupação.

O Golpe que retirou o presidente Manuel Zelaya do poder marca o ressurgimento de um fato corriqueiro durante o período da Guerra Fria onde os embates ideológicos entre EUA e URSS tomavam forma na América Central. A democracia nessa região é instável e o atual golpe representa também um retorno ao padrão de disputa ideológica. Contudo, dessa vez nota-se que de um lado há o presidente Zelaya apoiado por um projeto “bolivariano” de Hugo Chávez e o governo golpista contrário a essa interferência externa e a emenda de reeleição proposta por Zelaya.

O que está em jogo é a possibilidade do atual impasse causar uma guerra civil. Zelaya não tem forte apoio popular e isso torna seu retorno ao poder improvável. Diferente, por exemplo, do apoio popular que Hugo Chávez detinha na Venezuela na ocasião do golpe contra seu governo em 2002. O papel dos EUA nesse impasse é outro fato novo. O padrão tradicional de ingerência nos assuntos domésticos dos países centro-americanos, tão comum durante a disputa por zonas de influência na Guerra Fria, deu lugar a uma postura de mediação proposta pelo presidente Obama.

A novidade, portanto, é uma política externa para a América Latina que promove a cooperação via instituições (OEA por ex.) e não por meio de intervenções ou apoio a golpes militares. O problema é que nos EUA os republicanos percebem Zelaya como uma ameaça enquanto os democratas buscam reinstalá-lo no poder para então por em ação seu “plano de reconciliação” com monitores da ONU para garantir as liberdades civis e políticas. O governo interino já rejeitou essa proposta, mas o fundamental para uma saída política seria justamente uma presença maior dos EUA enquanto mediador.

Falando em Chávez, o homônimo é mais engraçado!
http://www.chavesweb.com/

sexta-feira, 10 de julho de 2009

Adeus à McNamara!




Morreu no dia 06/07 Robert S. McNamara. Um grande tecnocrata norte-americano que ficou famoso por liderar o esforço trágico dos EUA no Vietnã durante os governos de Kennedy e Johnson. Um intelectual de prestígio que se redimiu dos erros cometidos durante sua estada no Dpto. de Defesa ao reavaliar sua vida nos excelentes "In Retrospect" (memórias) e "Fog of War" documentário produzido por Errol Morris.


"Fog of War" é riquíssimo, pois trata de temas como crise dos mísseis, racionalidade na política, natureza da guerra, erros de avaliação e, é claro, a Guerra do Vietnã. No documentário McNamara elabora "11 lições" como base daquilo que aprendeu em sua vida profissional. "Não se pode mudar a natureza humana"; "obtenha dados"; "cause empatia no inimigo" e "a crença costuma estar errada" são algumas dessas lições que podem custar vidas quando não verificadas por um homem-de-Estado.


McNamara foi o primeiro civil a ocupar o cargo de secretário de defesa nos EUA. E até hoje, mesmo com o fiasco do Vietnã, ele é reconhecido como uma dos mais brilhantes tecnoratas na área da política externa. Se ele cometeu erros importantes no Vietnã, certamente deve ser saudado por sua brilhante avaliação das opções durante a crise dos mísseis em 1962. Foi ele que identificou o bloqueio naval como a melhor opção em vez de promover um ataque aéreo que, seguramente, poderia ter levado o mundo a "destruição mútua assegurada".


segunda-feira, 6 de julho de 2009

O Acordo Nuclear entre EUA e Rússia









O acordo assinado entre os presidentes Barack Obama e Dmitry Medvedev nesta segunda-feira representa um avanço importante em relação aos tratados assinados durante a década de 1970 conhecidos como START, sigla em inglês para Tratado Estratégico de Redução de Armas que expira no fim desse ano. Basicamente a evolução está em lidar com um tema congelado há muito tempo, um resquício da Guerra Fria que se encontrava esquecido, apesar de sua importância estratégica.

No novo acordo, que tem ainda o caráter apenas preliminar, há uma cláusula que afirma que as partes devem reduzir suas ogivas nucleares a um número inferior a 1,7 mil. Os tratados anteriores previam uma redução até 2,2 ogivas nucleares, mas nunca foram concluídos na prática. Outro avanço notório é a inclusão de grupos conjuntos de verificação das medidas. Uma espécie de comissão responsável por monitorar as cláusulas estabelecidas. Pode parecer pouco, mas a cooperação internacional na área de armamentos sempre foi precária e, durante o período da Guerra Fria, geralmente não avançavam.

Faz-se necessário recordar que antes dos acordos START houve outro processo de negociação para limitar o número de ogivas. Ficou conhecido como SALT, Tratado para Limitar Armas Estratégicas e durou quase toda a década de 1960. O que explicaria essas dificuldades de cooperação? Em primeiro lugar é preciso reconhecer que no período da Guerra Fria havia uma disputa ideológica entre EUA e URSS em torno de zonas de influência ao redor do mundo, mas também uma disputa geopolítica e tecnológica acerca do domínio estratégico no setor dos armamentos nucleares e convencionais. Portanto, qualquer movimento bem sucedido de uma das partes nessas áreas era objeto de represália ou competição estratégica por parte do outro.
Em segundo lugar devemos apontar a influência da anarquia internacional nessa área sensível da política internacional. Ou seja, as armas nucleares representavam na Guerra Fria não somente a defesa da soberania, mas, além disso, mantinham as zonas de influência como estavam e enviavam uma mensagem direta ao adversário de que qualquer tentativa de ataque com armas nucleares seria respondida imediatamente. Daí surgiu o termo “Destruição Mútua Assegurada”. Nem os EUA, tampouco a URSS poderiam iniciar um ataque nuclear sem receberem uma resposta à altura.

Essa lógica da Guerra Fria que mantinha as duas partes em uma “Guerra de Ameaças”, mas não em uma “Guerra Real” começou a ser atingida pelos avanços na tecnologia dos sistemas de defesa anti-mísseis que os EUA buscam instalar na Europa Oriental. Isso afeta os interesses geopolíticos russos ao criar a possibilidade de conter uma resposta russa com armas nucleares. Ou seja, o fim da destruição mútua assegurada!
O atual acordo preliminar não muda radicalmente o cenário atual, pois os EUA não ligaram a sua assinatura ao fim da instalação do sistema de defesa antimísseis na Europa, algo considerado essencial pelos russos. Contudo, o fato das duas maiores superpotências nucleares voltarem às negociações demonstra maior clareza de intenções em uma área onde, quase sempre, só se vê névoa.