sexta-feira, 1 de abril de 2011

O Discurso de Obama




A tradição norte-americana do State of the Union Address (Discurso sobre o Estado da União) é um exemplo de uma democracia madura que segue o padrão da prestação de contas aos cidadãos que elegeram o presidente não para ser seu líder, mas para ser seu servidor. Na prática, contudo, o discurso não é tão eficaz, principalmente em tempos de recessão econômica onde as medidas práticas são mais esperadas pela população do que palavras.

Os desafios dos EUA em uma nova era são grandes. A começar pela ascensão de novas potências econômicas como a China e a Índia. O desemprego caiu nos EUA esse ano, mas ainda permanece sendo um dos maiores problemas do país. O déficit fiscal deve chegar aos 10% esse ano. Obama recordou que os EUA precisam se adaptar a uma nova era onde os empregos viajam através das fronteiras em busca de regiões com leis trabalhistas mais flexíveis, onde a mão-de-obra é mais barata.

Nas palavras de Obama: O que está em jogo não é quem vence as próximas eleições. Está em jogo se novos empregos e indústrias irão se estabelecer neste país ou em outro lugar.” Essa preocupação reflete a perda relativa dos EUA frente aos demais países emergentes nas áreas de inovação tecnológica, educação, infra-estrutura e energias limpas.

As projeções do Fundo Monetário Internacional indicam que os EUA estão saindo da recessão econômica, mas o problema dos gastos públicos ainda é forte. Obama disse que o governo ainda gasta mais do que arrecada e pretende congelar os gastos domésticos para reduzir U$400 bilhões na próxima década.

Outros temas insólitos que prejudicam a cooperação entre as duas maiores forças políticas nos EUA, republicanos e democratas, foram tratados no discurso. Imigração e Reforma da lei da saúde permanecem sendo pontos de atrito entre o executivo democrata e a maioria republicana no congresso. Com a vitória dos republicanos nas eleições legislativas, o discurso de Obama enfocou no clamor popular pela “União Nacional” em torno da cooperação política e o fim das tensões. Para tanto, Obama recordou do atentado sofrido pela deputada democrata Gabrielle Goffords no Arizona. Há indícios que o assassino era ligado a um movimento radical conservados do partido republicano.

O ponto fraco, sem dúvida, foi a política externa. Não ficou claro como a retirada das tropas do Iraque e Afeganistão se alinharão com a intensificação do combate ao terrorismo internacional nas palavras de Obama. O mundo Árabe, em especial a região do norte da África começa a lutar pela democracia contra regimes ditatoriais. Obama não disse nada a respeito, talvez porque algumas dessas ditaduras, como o Egito, sejam suas aliadas.

Por fim, Obama buscou levantar o moral da população ao dizer que os EUA são o exemplo mais bem sucedido de nação democrática do século XX, mas o momento não inspira um surto de apoio popular, tampouco as palavras do discurso permanecem fortes no dia posterior. A percepção de decadência parece ter sido o tom latente no discurso à Nação.

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